Pandemia, escassez, câmbio e crises políticas tornaram abastecimento incerto e mais caro.

Efeito de gargalos criados pela pandemia de covid-19 e questões internacionais, a falta de matérias-primas importadas usadas na produção de defensivos agrícolas fez os preços dos produtos dispararem e traz preocupações para a safra 2021/2022. O assunto será discutido em uma audiência da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, que reunirá representantes do agronegócio e do Ministério da Agricultura, em data a ser definida. 

“Temos informações de que mais de 90% dos defensivos já estão comprometidos comercialmente ou provisionados para os produtores, revela o deputado Jerônimo Goergen, que propôs a audiência. “As empresas admitem até não cumprir contratos estabelecidos.”

Um dos agroquímicos mais escassos é o glifosato. Segundo o vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Elmar Konrad, agricultores que não anteciparam as compras poderão ter dificuldades para obter o herbicida, uma vez que grande parte do volume utilizado no país vem da China e a pandemia afetou o fornecimento. “Em outros itens, como fungicidas, o produtor tem mais opções de fornecedores”, compara. 

No caso dos adubos e fertilizantes, insumos que têm grande peso no custo da lavoura, a escassez é responsável por preços duas ou três vezes mais altos. A oferta de cloreto de potássio, por exemplo, vem sofrendo restrições em razão da crise política em Belarus, maior fornecedor mundial. O preço da tonelada passou de R$ 1,6 mil na safra passada para R$ 3,7 mil nesta. “O produtor precisará buscar saídas”, prevê o dirigente da Farsul.

O gerente de insumos da Cotrijal, Diego Wasmuth, não lembra de alguma escassez tão severa de defensivos. Relata, no entanto, que os produtores já vinham sendo alertados desde o ano passado para não deixarem as compras para a última hora se quisessem evitar o impacto dos aumentos. “Quem não se programou, mesmo que já tenha pago, pode não receber o produto”, observa.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Julio Garcia, diz que as empresas estão buscando alternativas diante da falta de matérias-primas. Mas reconhece que a tendência é de piora, especialmente porque o abastecimento segue imprevisível.

Fonte: Correio do Povo / Patrícia Feiten