Mais do que remediar o estrago feito, prevenção tem papel essencial para evitar que o drama se repita; Casa Civil tem agenda com MP na quarta-feira (12).
Diante das perdas bilionárias que se acumulam na produção agropecuária em razão da estiagem - só em faturamento, R$ 19,7 bilhões, segundo cálculo da Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro-RS) agir é um verbo que só pode ser conjugado no tempo presente. A hora de executar medidas de amparo é agora -os boletos não esperam a chuva chegar para vencer. Crédito emergencial, agilidade na homologação de decretos de emergência (até ontem eram 157 municípios), caminhões-pipa, entre outras iniciativas, são ações paliativas.
A falta de chuva que persiste expõe novamente a necessidade de atuação preventiva. Assunto que engloba reservar água e usar irrigação - no milho, por exemplo, só 10,24% da área cultivada tinha o sistema.
E que pauta uma segunda frente de atuação acertada no encontro de ontem da Famurs.
- Discutimos a criação de um grupo de trabalho para ações estruturantes, que minimizem efeitos no futuro - afirma Eduardo Bonotto, presidente da entidade e prefeito de São Borja, na Fronteira Oeste.
Um dos pontos debatidos é a questão dos licenciamentos ambientais para que seja feita a reserva de água. Tema que estará na pauta de reunião marcada para amanhã pela Casa Civil e da qual participam integrantes da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, da Fepam e da promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual.
A ideia, explica Artur Lemos, chefe da Casa Civil, é dividir a discussão em duas partes. Uma, das questões mais emergenciais. A outra,
com foco em uma solução mais definitiva. Para isso, será necessário driblar pontos de divergência em relação às atividades no Bioma Pampa, alvo de ação civil pública do MP, e em relação às exceções para que possa haver intervenção em áreas de preservação permanente.
- A gente quer que se chegue a um denominador comum. Queremos algo que seja sustentável dos dois pontos
de vista - explica Lemos.
Na prática, pondera Domingos Velho Lopes, coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, a incerteza jurídica sobre essas questões trava o produtor na busca por meios de reservar água (açudes, cisternas, etc):
- Hoje, não tem (pedido) de licença parado, porque o produtor nem pede, sabe que não vai conseguir.
Roteiro no rastro das perdas
De volta ao trabalho, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, acertou o roteiro do giro por quatro Estados afetados pela estiagem, incluindo o Rio Grande do Sul, que começa amanhã e se estende na quinta-feira. A primeira parada será no município gaúcho de Santo Ângelo. A titular da pasta deve visitar uma propriedade e também se reunir com representantes de entidades do
setor produtivo. A Federação da Agricultura do Estado (Farsul) entregará em mãos documento que reforça reivindicações para o ministério. Ontem, a entidade se reuniu, de forma virtual, com representantes de sindicatos rurais para avaliar o cenário.
No mesmo dia em que chega ao RS, Tereza Cristina vai a Chapecó, em Santa Catarina. Na quinta-feira, irá a Cascavel, no Paraná, e a Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.
NO RADAR
As exportações brasileiras de ovos cresceram 81,5% em 2021, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Foram 11,3 mil toneladas em volume e US$ 18 milhões em receita (+80%).
Novo recorde atracado
No embalo da safra farta colhida no ano passado, o porto de Rio Grande zarpou em direção a novo recorde. Considerando importações, exportações e trânsito, foram 45,19 milhões de toneladas movimentadas ao longo de 2021, maior volume em 106 anos de história. Na lista dos principais produtos embarcados via terminal gaúcho, o mais representativo, como de praxe em anos de boas colheitas, foi a soja. O grão teve 12,82 milhões de toneladas negociadas com mercados externos, crescimento de 38,23% sobre 2020, quando outra estiagem derrubou a produção do Rio Grande do Sul. Logo depois, na relação das maiores quantidades, está o farelo de soja, com 2,9 milhões de toneladas, aumento de quase 22% em igual comparação.
Em percentual, o maior avanço foi nas cargas de frango
congelado: 577,68% sobre 2020, seguido pela madeira, com alta de 116,08%. Destaque ainda para o trigo, que teve produção recorde em 2021 e exportação de mais de 1 milhão de toneladas, 63,51% a mais, em igual comparação.
Na contramão dessa ampliação ficou o arroz. Questões conjunturais, como a variação cambial e dificuldades logísticas -que levaram a um encarecimento do frete - afetaram os negócios externos. As 922 mil toneladas despachadas representam um recuo de 33,7% ante 2020.
Dos produtos exportados via Rio Grande, a China, sem surpresas, foi o principal destino - levou pouco mais da metade do total exportado pelo Estado. E ficou bem à frente da Coréia do Sul e dos Estados Unidos, países que fazem a lista dos três principais compradores.
Fonte: GZH / GISELE LOEBLEIN