Em Minas Gerais, alguns pecuaristas têm substituído o rebanho de vacas pelo de búfalos para se manter na mesma atividade.

Com cada vez mais espaço à mesa do brasileiro, o leite de búfala também tem galgado hectares no campo. Diante da crise do setor lácteo, acentuada no último ano, alguns produtores têm optado por substituir o rebanho de vacas por búfalos para se manter na "mesma" atividade: a produção de leite.

O principal estímulo, de acordo com a presidente da Associação Sulina de Criadores de Búfalos (Ascribu), Desireé Möller, está na margem de lucro. Enquanto o preço médio pago pelo litro do leite de búfala está em R$ 4,00, o valor do litro do leite de vaca chegou a R$ 1,99 em novembro de 2023, último dado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).

— O valor do leite de vaca estava caindo constantemente. A grande oferta e a importação de leite em pó do Mercosul prejudicou muito o setor no Rio Grande do Sul — contextualiza a dirigente.

Cenário que foi diferente para o leite de búfala. Por ser um produto "nichado", de baixa oferta e alta demanda, o preço da matéria-prima seguiu constante e em patamares elevados. O que acaba muitas vezes sendo vantajoso, explica Desireé, mesmo com uma produção menor do que a de vacas. Enquanto uma búfala produz em média oito litros por dia, uma vaca chega a 15 litros por dia.

É o que vislumbrou o produtor Marcelo Mascarenhas, de Minas Gerais. Anos atrás, ele decidiu substituir o seu rebanho de bovinos pelo de búfalos. Hoje, com 1 mil fêmeas, entre filhotes e adultos, a sua produção diária de leite chega a 3,5 mil litros no inverno — estação quando há rendimento máximo dos animais.

— E estamos em franca expansão. Eu e meu sócio adquirimos outra fazenda recentemente, em Martinho Campos. Estamos ampliando o plantel — afirma o produtor.

Toda a produção de Mascarenhas é vendida para o laticínio Bom Destino, de Oliveira, em Minas Gerais. A empresa capta 55 mil litros de leite de búfala por dia e transforma em creme de leite, burrata, queijos e mozzarella, produtos que chegam à mesa em todo o Brasil.

Fatores que também têm influenciado na troca de rebanhos são o manejo dos animais, a estrutura das propriedades e a alimentação parecidas com as do rebanho bovino.

— A diferença é que o búfalo tem pouca incidência de carrapato e mastite, pela rusticidade e a própria anatomia do animal. Isso faz com que o produtor economize em medicamentos, como antibióticos e carrapaticidas — acrescenta Desireé.

O rendimento da matéria-prima também chama a atenção. O leite de búfalo tem o dobro de sólidos (gordura e proteínas) do que o de vaca, o que, para os laticínios, é bastante vantajoso. Com o mesmo litro de leite, se produz o dobro de queijos, por exemplo.

Atualmente, o Brasil soma 1,5 milhão de búfalos — destes, 30% são voltados para a produção de leite, que representa 70% do faturamento. Minas Gerais e São Paulo despontam como os grandes Estados produtores da matéria-prima. São neles também onde se observa essa  migração de atividades entre os produtores.

No Rio Grande do Sul, que concentra 48,8 mil animais, há quatro produtores de leite de búfala e um laticínio, o Kronhardt, de Glorinha, segundo a Ascribu.

Fonte: GZH / Carolina Pastl