Fenômeno é uma das condições que devem se manter na primavera sob efeito de El Niño; as recomendações para o produtor enfrentar a condição.

Enquanto as perdas da chuva em excesso e do granizo no Estado são levantadas, o El Niño segue mostrando sua influência na primavera gaúcha. Boletim trimestral do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado (Copaaergs), coordenado pela Secretaria da Agricultura, indica que as condições trazidas pelo fenômeno têm 90% ou mais de chance de se manter na estação. Pode chegar ao status de “muito forte” no fim de novembro e ao longo de dezembro. Diante desse quadro, o conselho, que reúne 16 entidades públicas estaduais e federais ligadas à agricultura ou ao clima, faz recomendações do que pode ser feito pelo produtor.

— Achamos que haverá perdas, mas ainda é difícil quantificar o volume e se afetará a qualidade. O excesso de chuva em setembro foi horrível para a agricultura de forma geral — diz Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro-RS), sobre o trigo.

A umidade afeta também preparação e plantio de verão.

— Muitos (produtores) poderiam estar semeando, mas o momento é impróprio. Ano passado faltou água, neste, tem excesso — observa Geraldo Brossard de Mello, presidente do Sindicato Rural de Bagé.

No município da Campanha, o final de semana adicionou o granizo aos problemas. Gerente regional da Emater de Bagé, Rodolfo Perske relata que os danos estão sendo contabilizados. Por ora, os relatos são de problemas na produção de olerícolas. É o caso de Julierme Madke, que cultiva hortaliças em dois hectares, e estima R$ 30 mil de prejuízo:

— A parte do tempero, que é a campo, destruiu tudo, não sobrou nada. Brócolis, couve também. As verduras na estufa estavam protegidas, mas a infraestrutura foi toda destruída.

Como enfrentar o El Niño

O Copaaergs separou algumas orientações para os produtores em tempos de El Niño.

Culturas de inverno

  • Monitorar a ocorrência de doenças e pragas e observar se há necessidade de aplicações de defensivos agrícolas;
  • Não descuidar do momento da colheita, colhendo assim que possível.

Arroz

  • Intensificar a drenagem das áreas de lavoura;
  • Dentro do possível, dar continuidade à adequação das áreas destinadas à lavoura para a próxima safra, principalmente às atividades de preparo e sistematização do solo e drenagem, para possibilitar a semeadura na época recomendada pelo zoneamento agrícola;
  • Evitar semeaduras em áreas sujeitas à inundação persistente;
  • Iniciar a irrigação definitiva quando as plantas estiverem no estádio de 3 a 4 folhas, fazendo a aplicação da adubação nitrogenada em cobertura, preferencialmente em solo seco, antes da entrada de água.

Culturas de primavera-verão

  • Na medida do possível, agilizar o preparo e implantação das culturas, para aproveitar as janelas de possibilidades de semeadura e aplicação de produtos fitossanitários;
  • Escalonar a época de semeadura e utilizar genótipos de diferentes ciclos ou diferentes grupos de maturação sempre respeitando o zoneamento agrícola e calendário de semeadura;
  • Para cultura de milho e feijão iniciar a semeadura quando a temperatura do solo, a 5 cm de profundidade, estiver acima de 16°C e umidade adequada do solo;
  • Tratando-se de plantio direto, fazer o manejo de culturas de inverno voltadas para a proteção do solo e manutenção da umidade no solo;
  • Monitorar a lavoura quanto à ocorrência de doenças;
  • Para semeaduras em áreas de terras baixas utilizar cultivares precoces, com cuidados especiais em relação a drenagem.

Hortaliças

  • Quando necessário irrigar, proceder pela manhã, e dar preferência à irrigação por gotejamento;
  • Para cultivos em ambiente protegido (túneis e estufas), realizar o fechamento ao final do dia e proceder à abertura pela manhã, evitando aumento excessivo da umidade relativa e da temperatura do ar no ambiente interno dos abrigos;
  • Dar ênfase ao monitoramento de doenças.

Fruticultura

  • Muita atenção ao manejo fitossanitário, com o monitoramento de doenças;
  • Preservar a cobertura verde nos pomares seja por meio de espécies cultivadas ou espontâneas, especialmente para proteção do solo;
  • Se possível investir em sistemas de proteção antigranizo e/ou seguro agrícola;
  • Em pomares nos quais houver eventual perda de estruturas de frutificação e frutos em função da ocorrência de granizo, adotar o manejo usual do dossel vegetativo em relação a podas e aplicações de defensivos químicos;
  • Recomenda-se a prática do raleio para ajuste da carga de frutos quando necessário.

Pastagens

  • Promover a manutenção da cobertura de solo e de boa disponibilidade de forragem;
  • Escalonar os períodos de plantio/semeadura das forragens cultivadas para o período de primavera/verão utilizando mudas/sementes de alto vigor;
  • Reduzir a carga animal na pastagem após a ocorrência de grande volume de chuva;
  • Indica-se fazer silagem/feno de cultivos e pastagens de inverno/primavera, visando garantir maior disponibilidade de alimento no verão.

Fonte: GZH / Gisele Loeblein