Iniciativa do Correio do Povo e Rádio Guaíba reuniu entidades do setor para debater mitigação de carbono no campo.

Na ordem do dia da agenda global, a produção sustentável e seus desafios foram o tema do Correio Rural Debates de ontem, transmitido pela Rádio Guaíba e pelo YouTube do Correio do Povo direto da Casa do CP na Expointer. Os debatedores ressaltaram que o produtor rural gaúcho, em sua grande maioria, já atua no sentindo de preservar o ambiente onde produz, e que o foco deve ser a comunicação sobre este modo de produção com os consumidores. 

Coordenador nacional da Alianza del Pastizal, Pedro Pascotini explicou que a entidade tem trabalhado, nos últimos 15 anos, no sentido de aliar a produção à preservação ambiental do bioma Pampa. Ressaltou que o pecuarista está preocupado com a conservação de sua propriedade, mas que antes disso o empreendimento precisa ser viável economicamente. Por isso, o trabalho da Alianza visa levar tecnologias que possibilitem a competitividade do negócio. Pascotini observou ainda que tecnologias sem custo financeiro têm potencial para triplicar a produção pecuária. O especialista salientou ainda que quanto menos tempo uma unidade animal permanecer no campo, antes de ser enviado para o abate, mais sustentável é o sistema produtivo. 

Um dos principais players do mercado internacional de alimentos, o Brasil já dependeu de importações para abastecer a sua população, como lembrou o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Flores Cardoso. Porém, desde a década de 1970, o país triplicou a sua produção, sem que a área cultivada aumentasse na mesma proporção. Por isso, ele ressaltou que, por meio de boas práticas e de tecnologias adequadas, é possível produzir mais em menos área. Citou como exemplo uma parceria recém-assinada com a Associação Brasileira de Angus, que visa promover a sustentabilidade em um público de cerca de 13 mil criatórios. A busca por sistemas de produção que gerem alimentos saudáveis e que projetam o meio ambiente é um dos pilares da atuação da Embrapa Pecuária Sul, sediada em Bagé. Segundo Cardoso, muitas tecnologias disponíveis não exigem custos ao produtor para promover a sustentabilidade na produção, ao mesmo tempo em que trazem mais renda. Um exemplo citado por ele é o manejo adequado da altura das pastagens, que pode contribuir com a mitigação de carbono. A eficácia desse sistema foi comprovada recentemente por meio de pesquisa da própria Embrapa. 

O coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Domingos Velho Lopes, destacou a importância de mostrar ao público urbano, não apenas do Brasil, o trabalho de preservação que é feito nas propriedades rurais. Ele observou que, embora não seja o caso de “tapar o sol com a peneira”, questões relacionadas ao desmatamento da Amazônia, desertificação e deriva de produtos químicos são a exceção. “Temos conseguido mostrar não só à sociedade urbana, mas ao mundo, o que estamos fazendo. Tanto que temos conquistado cada vez mais mercados”, afirmou Lopes, ressaltando que o Brasil exporta alimentos para mais de 190 países. “De fato, temos competência para produzir mais sem gerar agressão à natureza”, completou. Entre os exemplos, citou o plantio direto na palha, reutilização da água e a logística reversa de embalagens de produtos químicos. 

O dirigente ressaltou que a questão do sequestro de carbono e do pagamento por serviços ambientais é um dos assuntos mais discutidos atualmente no setor agropecuário, em especial no regramento que está sendo construído pelo Executivo para esses itens. Com relação à precificação destes pagamentos, a Farsul atua junto a um grupo de trabalho formado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que está desenhando o mapa de como avaliar os ativos ambientais dentro de uma propriedade. Lopes destacou ainda que o Brasil responde por apenas 2% da emissão de carbono do planeta, enquanto que China, Estados Unidos e Europa são responsáveis por mais de 60%. 

O presidente da Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares, Ignacio Tellechea, ressaltou que a entidade, como "guardiã" dos registros genealógicos das raças taurinas de corte, atua na busca por animais mais eficientes, o que está alinhado com os preceitos de uma produção sustentável. "O Brasil é referência na produção agrícola mundial e, do ponto de vista dos produtores de genética, o trabalho de seleção que está sendo feito nas raças é justamente no sentido de ajudar a fazer uma pecuária mais eficiente", observou. De acordo com o criador, os pecuaristas já atuam sequestrando carbono, em especial na produção em campo nativo. Ele destacou ainda que a questão ambiental é apenas um dos três pilares de sustentabilidade em uma propriedade, o que inclui ainda os aspectos econômico e social. 
O Correio Rural Debates teve ontem a sua segunda edição nesta Expointer. O ciclo de discussões chega ao fim hoje com o tema O Campo Digital. 

Fonte: Correio do Povo / Danton Júnior